8 August 2008

preto azeitona

Vou deixar-me estar
Deitada no canto desta cama, quase a cair para dentro do fosso que ela faz com a parede
Os dias hão-de passar
Palavras afectuosas hão-de encontrar o caminho até mim
Entretanto tudo há-de morrer. A mão esquerda
Depois a mão direita.
A pele há-de secar e escamar
Os ossos vão ficar pretos
As memórias hão-de assolar o que restar do corpo
-que estás a dizer-me mãe?
-estás aí?
A pele há-de continuar a mirrar
-de que falas mãe? Pedes para eu tomar conta dos animais…vais-te embora?
-Pedes-me para apanhar a roupa do estendal?
A pele, eventualmente, há-de deixar transparecer as lágrimas que não chorei,
O amor que não larguei, a paixão que não vivi.
-Mãe, porque insistes em entrar no meu quarto sem bater à porta?
-mas estás aqui tão perto…
dás-me de comer? Depois podes deixá-los entrar.
eles que venham penetrar-me.

Ou no que resta de mim.

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