12 March 2005

afia dor

a desordem do teu reflexo em mim deixa-me tão quente
não tenho sido eu nestes últimos anos
nunca gostei do azul e hoje é uma das cores onde mais depressa me encontro
como se estivesse numa pensão limpa e silenciosa
onde a dor se pendura nos neons que se avistam da janela
ardendo toda a noite intermitentemente.
e nos intervalos de tudo, da luz, da respiração, do bater do coração,
lembro-te,
a tua maneira de fumar
o teu olhar poisado em mim quando me finjo distraída
a atenção que pareces manter nas coisas que vou dizendo
o teu sorriso.
não sei se sei amar
quando se chega sozinho a esta altura da vida tudo é tão frágil de novo,
ou então tudo sempre foi frágil
como as minhas mãos pálidas, que me pertencem para sempre.
o segredo mantém-me cá
o segredo faz-me também percorrer, vezes sem conta, de novo aquelas ruas,
aqueles sítios, as tuas palavras, o teu abraço.
o segredo de que não suporto mais ninguém.
só isto por enquanto.
mas sou eu. mais eu do que julgava poder voltar a ser.
é tudo verdade entre nós.
vem aí a primavera.