Eu gosto de dias de chuva no verao. Tal como gosto de dias de sol no chuvoso inverno. Gosto, porque me parece uma pausa. A verdadeira pausa. Aquela de que precisamos e nao conseguimos atingir. Parece que continuamos no mesmo tempo (nao clima), mas em dois espacos diferentes em simultaneo. E somos obrigados a interromper quase tudo o que iamos fazer. No verao interrompemos as idas a praia para pormos a meditacao e introspeccao em dia, no inverno interrompemos tudo, absolutamente tudo, para fingirmo-nos de mortos debaixo do sol, no banco de jardim mais proximo do nosso local de trabalho.
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Gosto de como o vinho tinto apura o meu olfacto. Da paciencia que ganho com as coisas para as quais normalmente nao tenho paciencia. Das horas que consigo passar a tentar descrever num poema as situacoes que me rodeiam nessas alturas ebrias. Gosto de me rir com a parvoice desse poema quando ja sobria.
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Gosto de comprar diarios novos. Classicos ou arrojados. Gosto de como fico irritada por nao saber em que pagina comecar a escrever. Gosto de como chego a conclusao de que o diario era muito mais bonito antes de estar escrito.
Gosto de ler os meus diarios antigos, afinal ate gosto deles escritos e cheios de manchas, desenhos, cores, papeis rasgados e coleccionados, a capa ja velha e gasta... afinal gosto de ser incoerente.
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Gosto de ser incoerente. Gosto especialmente desta parte, porque assim acabo por gostar de tudo e gostar de tudo e' provar de tudo.
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Gosto de nao gostar de ser incoerente. Aqui a coisa complica-se, mas gosto 'a mesma. Gosto, porque senao nao saberia ser quem sou e ai' sim, eu penso que se nao soubesse quem queria ser, eu nao gostaria de mim.
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