“Quando a acção não é entravada, a alma tem muito menos razões para agir. Quanto mais se apertava em torno de Christophe o cerco das preocupações e das tarefas medíocres, mais independente se sentia o seu coração revoltado. Numa vida sem empecilhos, ter-se-ia entregue sem dúvida aos caprichos do acaso. Não tendo livres senão uma ou duas horas por dia, a sua força tumultuava nesse curto espaço de tempo como uma torrente entre rochedos. É uma boa disciplina para a arte condensar os esforços em limites implacáveis. Nesse sentido, pode dizer-se que a miséria é mestra não só do pensamento, mas também do estilo; ensina sobriedade tanto ao espírito como ao corpo. Quando o tempo é limitado e as palavras medidas, não se diz nada de inútil, e adquire-se o hábito de pensar somente o essencial. Deste modo, vive-se duplamente, por se ter menos tempo para viver.”
in “A manhã” de Romain Rolland
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