Ele perguntou-lhe numa das mensagens que íam e vinham em longos decursos de tempo, como era que ela se deixava viver em tão áspero modo de ser, quando ele acabara de encontrar-se com algum sol dentro dela.
E ela, não o querendo repelir, disse-lhe em tom de segredo (mesmo sabendo que por escrito ele não iria obviamente percebê-lo), que esse caminho rugoso por onde eram conduzidas as pessoas que entravam na sua vida, era criado pela sua razão e odiado pela espontaneidade que a queimava por dentro.
Desta vez ele não perguntou e numa paragem da sua intensa respiração deixou escapar um "não entendo".
Ele não entendia.
Ela tinha de o fazer compreender e as horas passavam, eventualmente o dia também.
Perdeu o fio que a segurava e escreveu-lhe com toda a sinceridade. A ver se ele se virava para trás.
-Por vezes penso que se estivesse desse lado, a receber mensagens provocadas pelos desafios que me colocas, também eu teria a imagem de uma pessoa áspera. Quando esta aspereza é apenas medo de não estar à altura dos elogios que me fazes. Sabes, sinto-me muito como uma criança tentando imitar os adultos que conheceu na infância, mas agora que cresci, só sinto que somos todos crianças proibidas de brincar. E que triste que é não poder brincar, quando ainda sei tão bem como se faz.
Ele recebeu a última mensagem com mais um suspiro.
Estava de saída. De qualquer maneira era tarde demais.
Tarde demais para querê-la de volta.
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