Finalmente chegámos ao dia 25 e confesso que já começa a parecer Natal, mas pouco. Este ano passou num ápice. Talvez seja por isso que o Natal não me esteja a parecer Natal. Bem, antes de mais, um Feliz Natal a quem passar aqui pela estação... a quem tenha resolvido sair de casa a dar uma volta á estação, neste frio próprio de um romance de Dostoievski. A quem tenha vindo procurar alguma coisa ou alguém... a quem esteja ainda á espera do tal encontro.
Eu por minha vez estou com um dos meus gatos ao colo, que me vai aquecendo as pernas enquanto escrevo no diário, enquanto oiço sons de barcos, de comboios, de asas que batalham para aqui chegarem.
E espero.
A musica que se ouve na estação parece-me Bud Powell. É ele de certeza. E as pessoas tardam em chegar. Será que não vem ninguém?
Vou entregar-me então a esta solidão. Talvez até seja necessária. Nada como a solidão para ouvir ainda mais alto todo o ruído que sai cá de dentro.
E com este chinfrim vou andando para ao pé da lareira, isto é, se ela ainda estiver acesa... quem sabe encontro alguém no caminho de regresso, um sorriso, um abraço, um aperto de mão, um nariz frio encostando-se á minha cara... quem sabe? Afinal é Natal e milagres acontecem em qualquer dia se for preciso.